Grave em qualquer área de conhecimento, as fake news podem se tornar letais quando o alvo é a saúde. Por redes sociais, sites de busca e aplicativos de mensagens, espalham-se milhares de receitas infalíveis, alimentos superpoderosos, estudos inexistentes e tratamentos milagrosos. O mais perverso: doenças graves, que demandam tratamento específico e contínuo, são justamente as mais usadas para fisgar leitores desavisados. A mais recente notícia falsa é também uma das mais perigosas. Trata-se de uma suposta terapia natural que promete curar 95% das doenças existentes no mundo.
Conhecida como MMS, sigla em inglês para solução mineral milagrosa, a substância popularizou-se entre familiares de pessoas com autismo. Mas seus defensores afirmam que seus efeitos vão muito além. Com efeito antibiótico, antiviral, antifúngico, antiparasitário, entre outros, ela seria eficaz contra malária, infecções, aids, câncer e Alzheimer. O nome e a infinidade de usos já são suficientes para levantar suspeita sobre o produto. Mas, além da ausência de efeitos terapêuticos, a MMS, é um líquido composto por dióxido de cloro, um alvejante usado no branqueamento de tecidos e no tratamento de água. Diz Renata Fonseca, gerente de fiscalização da Anvisa: “É uma substância química com atividade corrosiva que pode causar males para a saúde. É um produto que também traz riscos pela inalação”.
Pode-se comprar a substância pronta (à venda ilegalmente em sites na internet) ou fazer em casa a partir de uma mistura de 28% de solução de clorito de sódio e ácido cítrico, como suco de laranja ou limão. A combinação forma dióxido de cloro, uma substância mais irritante que a água sanitária. Seu uso pode prejudicar mucosas, causar náusea, vômito, diarreia, desidratação grave, queda da pressão sanguínea e levar à morte.
A substância foi alçada à categoria de panaceia em 2006 por Jim Humble, ex-garimpeiro e fundador da Genesis 2 – Igreja da Saúde e Cura, sediada nos Estados Unidos. Reza a lenda que Humble teria descoberto o poder curativo da mistura em 1996, durante uma expedição à América do Sul. Segundo ele, algumas gotas de dióxido de cloro seriam capazes de eliminar a malária em apenas algumas horas – o que não é verdade. Atualmente, a substância é considerada um dos pilares sagrados da igreja e é recomendada para a cura para autismo, câncer, HIV, malária e Alzheimer. Anthony Wong, toxicologista e diretor médico do entro de Assistência Toxicológica do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP afirma: “Ela não tem nenhuma dessas propriedades terapêuticas alegadas. A única coisa que tem é a esperança que vai funcionar”.
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