O estresse é a reação do corpo a situações prejudiciais, reais ou percebidas. Quando nos sentimos ameaçados de alguma forma, o corpo desencadeia uma reação química conhecida como “luta ou fuga”. Essa resposta aumenta a frequência cardíaca aumenta, acelera a respiração, contrai os músculos e aumenta a pressão arterial. Caso você precise fugir de uma ameaça, está preparado.
Em pequenas doses, o estresse é necessário e até mesmo benéfico. É graças a ele que estamos aqui hoje. Mas, na vida moderna, as situações de ameaça se multiplicaram. Trabalhamos horas demais, a jornada até o trabalho é exaustiva, as finanças não fecham.
Nosso corpo não está preparado para lidar com esse estresse crônico a longo prazo. É ele que causa irritação, cansaço e problemas para saúde. Já está comprovado que o estresse aumenta o risco de problemas cardiovasculares, como infarto e AVC; de problemas psiquiátricos, como depressão e ansiedade; acelera o envelhecimento precoce; agrava o diabetes e afeta o sono, o apetite e a libido.
Além desses fatores, o estresse prolongado afeta diretamente a sua aparência. Essa semana, um estudo realizado por pesquisadores de Harvard e do Centro de Pesquisa em Doenças Inflamatórias (Crid) da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRP-USP) mostraram que o estresse acelera o aparecimento de cabelos brancos. Veja abaixo esse e outros danos visíveis causados pelo estresse:
Envelhecimento precoce
O estresse crônico contribui para o envelhecimento precoce, não só do seu organismo como um todo, mas da pele também. E esses efeitos aparecem mais rapidamente no rosto. Períodos prolongados de tensão causam olheiras, bolsas embaixo dos olhos e rugas.
Os capilares, vasos sanguíneos extremamente finos, que ficam embaixo dos olhos são frágeis e se quebram sob estresse, que também favorece o acúmulo de líquidos abaixo dos olhos, contribuindo para as olheiras e bolsas.
Quando estamos irritados, franzimos as sobrancelhas, a testa e dormimos pouco. Esse hábito contribui para o aparecimento precoce de rugas e linhas de expressão. Além disso, estar em constante estado de estresse pode retardar o processo de renovação da pele.
Segundo um estudo publicado no periódico científico Inflamm Allergy Drug Targets em 2014, a liberação crônica de cortisol, o hormônio do estresse, causa atrofia cutânea, redução do número de fibroblastos e diminuição do colágeno e elastina, fatores associados ao aparecimento de rugas.
“Também há uma maior liberação de adrenalina e isso causa menor reparação aos danos ao DNA celular pelo processo de envelhecimento.”, diz Kédima Nassif, dermatologista da Sociedade Brasileira de Dermatologia e tricologista da Associação Brasileira de Restauração Capilar. O estresse emocional está associado à redução dos mecanismos de adaptação ao stress oxidativo, aumentando a geração de radicais livres que também acentuam o envelhecimento da pele.
“Além disso, acredita-se que os telômeros, uma parte dos cromossomos, se encurtam pelo estresse crônico. Esse encurtamento é considerado causador do envelhecimento por reduzir a função das mitocôndrias, organelas que geram energia para as células, e por aumentar a produção de radicais livres”, explica Kédima.
Queda de cabelo
O estresse pode destruir seu cabelo de várias maneiras, desde causar a queda até desacelerar o crescimento dos fios. Embora parte disso tenha a ver com hormônios, mudanças na dieta também desempenham um papel fundamental nesse processo.
Pesquisas mostram que o estresse aumenta a probabilidade escolhas alimentares pouco saudáveis . Mas se a alimentação emocional se tornar um hábito contínuo, isso pode retardar o crescimento do cabelo. A má nutrição coloca o corpo no modo de sobrevivência, o que leva a energia ser desviada do crescimento do cabelo para outras partes mais essenciais do funcionamento do corpo.
Além disso, a liberação de cortisol encurta a fase de crescimento capilar e promove a queda dos fios, processo conhecido como eflúvio telógeno. “Pela maior liberação de adrenalina, há a vasoconstrição nas raízes dos cabelos com menor aporte de sangue e nutrientes ao fio, impactando na fase de crescimento”, explica a tricologista.
Outras condições associadas à perda de cabelo induzida pelo estresse estão a alopecia areata, um distúrbio auto-imune no qual os glóbulos brancos atacam os folículos capilares, e na dermatite seborreica, inflamação que pode aparecer no couro cabeludo e contribui para a queda e afinamento dos fios.
Segundo um estudo publicado na American Osteopathic College of Dermatology, pode ser difícil vincular a queda de cabelo ao estresse porque ela pode ocorrer meses após um evento estressante.
Problemas de pele
A acne é uma das manifestações mais visíveis do estresse. Isso pode ser causado tanto por flutuações hormonais desencadeadas pelo excesso de irritação quanto pelo fato de pessoas estressadas tenderem a tocar o rosto com mais frequência. O hábito ajuda a espalhar bactérias e contribui para o desenvolvimento da acne. Um estudo realizado com 94 adolescentes constatou que níveis mais altos de estresse estavam associados à piora da acne, principalmente em meninos.
Segundo o estudo Brain-skin connection: stress, inflamation and skin aging, a liberação de substâncias inflamatórias e do aumento da oleosidade causados pelo excesso de cortisol pioram a acne.
O estresse também pode piorar as condições de pele existentes, como eczema, rosácea, psoríase e dermatite atópica. “A dermatite atópica é uma doença crônica da pele em que a camada protetora é alterada, predispondo a alergia, coceira e infecções cutâneas. O estresse altera ainda mais essa barreira protetora ao reduzir a produção de ceramidas, substâncias fundamentais para essa função da pele, assim como alterar a produção e diferenciação das células que compõe a camada protetora. O resultado disso é a maior predisposição a alergia e infecções da pele.”, afirma Kédima
O estresse crônico também contribui para uma pele seca e sem brilho.
Cabelo branco
Um estudo publicado essa semana na revista científica Nature não só comprovou que um forte estresse acelera drasticamente o aparecimento de cabelos brancos como mostrou como isso acontece. De acordo com os pesquisadores, o estresse causa danos permanentes às células-tronco responsáveis por produzir melanina, principal pigmento responsável pela cor da pele e do cabelo. Esse fenômeno causa a perda precoce de coloração dos cabelos de forma permanente.
Obesidade
Pessoas estressadas têm maior probabilidade de ter hábitos prejudiciais, como comer mal e não se exercitar, que contribuem para o desenvolvimento da síndrome metabólica. A síndrome metabólica, condição que inclui pressão alta, açúcar elevado no sangue, excesso de gordura na barriga e níveis anormais de triglicérides e colesterol, aumenta o risco de obesidade central.
Um estudo realizada pela Universidade da Califórnia em San Francisco, nos Estados Unidos, mostrou que mulheres que sofrem estresse devido a eventos traumáticos correm um risco maior de desenvolver obesidade do que aquelas que não se sentem estressadas.
Além dos problemas alimentares, o estresse aumenta a produção do hormônio cortisol – sempre ele! – que também está associado ao ganho de peso. O cortisol leva o corpo a acumular gordura em vez de queimar.
O culpado é a betatrofina, uma proteína que bloqueia uma enzima, a lipase triglicerídica adiposa, que decompõe a gordura corporal. De acordo com um estudo da Universidade da Flórida, o estresse crônico estimula a produção de betatrofina. Isso, associado a uma alimentação ruim aumenta a probabilidade de gordura visceral, que é um fator de risco para a obesidade.
Unhas fracas e com manchas
A alimentação ruim associada ao rápido consumo de nutrientes típico de momentos de estresse – quando o corpo está sob estresse, todo o organismo funciona freneticamente, incluindo digestão, respostas cerebrais, hormônios e imunidade – pode causar deficiência de nutrientes. A falta de cálcio e zinco são as principais responsáveis pelas manchas brancas nas unhas. Além disso, altos níveis de cortisol podem impedir que as unhas cresçam.
Estudos mostram também que o estresse está associado aos hábitos de roer e manipular as unhas. “Isso facilita a descamação ungueal, o aparecimento de ranhuras nas unhas e manchas esbranquiçadas. Ainda podem surgir depressões horizontais nas unhas, chamadas de linhas de Beau”, diz a dermatologista.
Lábios rachados
A deficiência de vitaminas também contribui para o ressecamento labial e aparecimento de feridas no local. Isso pode ser corrigido com a reposição de vitamina B6, importante para a produção de neurotransmissores como a serotonina, a dopamina e a melatonina, responsáveis pela regulação do humor e do sono.
Outro fator que contribui para os lábios rachados em momentos de estresse prolongado é a alteração da barreira protetora da pele. Segundo Kédima, há um aumento da perda de água transepidérmica, o que contribui para o ressecamento da pele e dos lábios, que ficam mais suscetíveis a fissuras.
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