Profissional de saúde segura bolsa de plasma doada por paciente recuperado da Covid-19 no Cairo, Egito, no dia 22 de julho. O tratamento com plasma convalescente, com anticorpos para o novo coronavírus (Sars-CoV-2), pode ajudar pacientes infectados a combater a doença. — Foto: Khaled Desouki/AFP
Resultados iniciais de uma pesquisa publicada nesta semana apontam que o tratamento precoce da Covid-19 com plasma convalescente (material retirado do sangue de pacientes que já se recuperaram da doença, com anticorpos) pode reduzir a mortalidade pela doença.
Cientistas de um hospital americano no Texasfizeram transfusões de plasma em 316 pacientes infectados entre março e julho. Depois, compararam os dados de 136 deles, 28 dias depois, com os de 251 pacientes que não receberam a substância (foram comparados apenas os pacientes para os quais havia dados disponíveis depois desse
Os pesquisadores mostraram que, se a aplicação da substância fosse feita nas primeiras 72 horas (3 dias) após a internação, a chance de as pessoas ainda estarem vivas 28 dias depois era maiorentre os que receberam a substância.
Nos casos em que a transfusão foi feita após as primeiras 72 horas, não houve diferença na mortalidade, segundo o estudo. Para funcionar, o plasma também deveria ter alta concentração de anticorpos. Os resultadosforam publicados no “American Journal of Pathology”.
“Embora o plasma convalescente seja uma terapia segura, nossos dados apontam que uma consideração cuidadosa deve ser dada aos riscos e benefícios potenciais, uma vez que a transfusão pode ser benéfica só no início do curso clínico”, avaliam os cientistas no estudo.
Na foto, cientistas do Hospital Houston Methodist, no Texas, trabalham em testes com plasma convalescente para pacientes com Covid-19, a doença causada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2). — Foto: Houston Methodist
“Em nossa experiência, muitos pedidos de plasma convalescente são para pacientes que já receberam outras terapias e estão no final do curso da doença”, afirmam os pesquisadores.
Os dados estão entre os primeiros publicados de forma definitiva que mostram eficácia no tratamento com plasma convalescente contra a Covid-19. Outras foram divulgadas em forma de prévia, ainda sem passar por revisão de outros cientistas (a chamada “revisão por pares” ou “peer review”, em inglês), etapa que é necessária para validação dos resultados e publicação deles em revista científica.
(Mais abaixo, você poderá ler mais sobre um outro estudo, ainda em prévia, sobre o tratamento precoce da Covid-19 com plasma).
“Embora a terapia de plasma convalescente permaneça experimental e tenhamos mais pesquisas a fazer e dados para coletar, agora temos mais evidências de que tem mérito, é segura e pode ajudar a reduzir a taxa de mortalidade por esse vírus“, afirmou o médico James Musser, um dos autores do estudo, do Hospital Houston Methodist, onde os testes foram feitos.
Outro estudo, disponibilizado on-line na quarta-feira (12) mas ainda não publicado de forma definitiva, também aponta que pacientes que receberam o plasma em até 3 dias após o diagnóstico da Covid-19 tinham mais chance de sobreviver.
Os cientistas, da clínica Mayo, uma das maiores dos EUA, analisaram dados de 35.322 pacientes que receberam transfusões em 2,8 mil centros de centros de tratamento intensivo nos Estados Unidos e seus territórios.
Profissional de saúde segura bolsa de plasma doada por médico que se recuperou da Covid-19 em hospital de Bogotá, na Colômbia, em foto tirada no dia 12 de agosto. O tratamento com plasma convalescente pode ajudar pacientes infectados pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2) a combater a doença. — Foto: Raúl Arboleda/AFP
As principais descobertas foram:
- Nos pacientes que receberam o plasma em até 3 dias depois do diagnóstico, cerca de 9 a cada 100 não estavam mais vivos sete dias depois da transfusão. Nos pacientes que recebiam a substância 4 ou mais dias depois do diagnóstico, esse número subia para cerca de 12 a cada 100.
- Nos pacientes que recebiam o plasma em até 3 dias, cerca de 22 a cada 100 morriam em até 30 dias após a transfusão. Já naqueles que passavam pela transfusão do quarto dia em diante, a mortalidade subiu para cerca de 27 a cada 100 no mesmo período.
- A mortalidade também variou conforme a quantidade de anticorpos presentes no plasma recebido: a mortalidade entre os que receberam alta dose foi de 9%; entre os que receberam uma dose média, cerca de 12%; e, entre os que receberam uma dose baixa, quase 14%.
- g1