Prof. Dr. Marcos Fava Neves* – Vamos às reflexões dos fatos e números do agro em julho e a lista do que acompanhar em agosto. Na economia brasileira de acordo com o boletim Focus de 12 de julho, o mercado elevou sua expectativa para a taxa Selic em 2021, devendo terminar o ano em 6,63% e atingir o patamar de 7,0% em 2022. O PIB de 2021 também foi reajustado para cima, com previsão de crescer 5,26%, enquanto em 2022 a evolução deverá ser de 2,09%. O IPCA deve fechar 2021 em 6,11%, e 2022 em 3,75%. Já o câmbio, em R$ 5,05 e R$ 5,20, respectivamente.
Após 12 meses de altas consecutivas, o índice de preços globais dos alimentos da FAO (Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação) apresentou retração de 2,5%, chegando a 124,6 pontos. O recuo foi puxado pelas quedas nos preços de óleos vegetais (-9,8%) e cereais (-2,6%). Mesmo com a baixa, o indicador ainda está 33,9% superior ao valor constatado no mesmo mês do ano passado.
No agro mundial e brasileiro, em âmbito internacional, o relatório do USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) trouxe poucas novidades sobre a oferta e demanda das commodities agrícolas para o ciclo 2021/22.
A produção global de soja foi mantida na faixa das 385 milhões de t (incremento de 6,0% frente ao ciclo passado) e os estoques em 94,49 milhões de t (+3,3%). O Brasil deve liderar a produção da oleaginosa alcançando 144 milhões de t (+5,1%), seguido pelos Estados Unidos com 119,88 milhões de t (+6,5%), e pela Argentina, que deve colher 52 milhões de t (+11,8%). Já no milho, a produção mundial foi reajustada em 5 milhões de t, agora avaliada em 1,195 bilhão de t (+6,6%) com estoques também ajustados em 291,18 milhões de t (+4,0%). A produção brasileira do cereal foi projetada em 118 milhões de t (+26,9%), enquanto que Estados Unidos e Argentina devem colher, respectivamente, 385,21 milhões de t (+6,9%) e 51 milhões de t (+5,2%).
O VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária) de 2021 foi estimado pelo Mapa (Ministério da Agricultura Pecuária e Abastecimento) em R$ 1,099 trilhão, valor 10,5% superior ao de 2020 (R$ 955 bilhões). O faturamento das lavouras deve totalizar R$ 753,2 bilhões (+13,8%), enquanto para a pecuária são esperados R$ 346,2 bilhões (+3,8%).
Exportações brasileiras do agronegócio cresceram 25% em junho, um desempenho excepcional. Atingimos US$ 12,1 bilhões, contra US$ 9,7 bilhões de junho de 2020. Mesmo os volumes tendo caído 4%, os preços estão em média 30,4% maiores. As importações cresceram para US$ 1,28 bilhão, deixando então um superávit de R$ 10,8 bilhões. Nestes números, os destaques vão para a cadeia da soja, que cresceu 24% chegando a US$ 6,2 bilhões, sendo US$ 5,3 bilhões de soja grão. Carnes também cresceram aproximadamente 27% em junho, indo a US$ 1,8 bilhão.
Carne bovina bateu seu recorde para um mês de junho, chegando a US$ 834 milhões, 13% acima do ano passado, mesmo com queda de quase 7% no volume (164.300 toneladas). Frango cresceu 46% para US$ 636 milhões e suínos 36%, com quase US$ 270 milhões e 107 mil toneladas. Produtos florestais também cresceram 24% (US$ 1,2 bilhão), cana saltou 27% (chegando a US$ 1,1 bilhão) e o café com incríveis 40% de aumento, para US$ 454 milhões. Em seis meses vendemos US$ 61,5 bilhões, deixando um saldo de US$ 54 bilhões. Um incrível crescimento de quase 21% na comparação com o primeiro semestre de 2020. Quase 40% de nossas vendas foram para a China, que importou de soja do Brasil 38,2 milhões de toneladas de janeiro a maio, 13% a mais.
O balanço social da Embrapa, recentemente divulgado, revelou que em 2020 foram gerados cerca de R$ 61,85 bilhões em lucro social, ou seja, a cada R$ 1 aplicado na empresa foram devolvidos R$ 17,77 para a sociedade, criando ainda 41.475 empregos diretamente relacionados às atividades. Um exemplo da ciência contribuindo para a atividade produtiva!
A Aprosoja (Associação Brasileira dos Produtores de Soja) estima que os custos de produção para a soja no ciclo 2021/22 sejam de R$ 2.719/ha, 12% a mais em comparação com o ciclo anterior. O grande impulsionador desse incremento foram os fertilizantes, que sofreram aumento de quase 15% em seus preços em relação à safra 2020/21.
Segundo a Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos), as vendas de máquinas e implementos agrícolas devem crescer 30% em 2021, superando o aumento de 2020 (17%). No entanto, especialistas temem que a falta de componentes (peças, pneus e acessórios) possa prejudicar a capacidade da indústria. Vale destacar que os custos de itens utilizados na produção de maquinários subiram mais de 30% entre 2020 e 2021.
No início de julho foi divulgada a mais nova versão do “OECD-FAO Agriculture Outlook”, um dos mais importantes estudos com as projeções da produção global de alimentos. No relatório, as entidades estimam que o Brasil ampliará o seu papel como exportador, especialmente para produtos como a carne bovina, a soja, o açúcar e o milho. A previsão de crescimento na produção da soja para o Brasil é de 17%, e as exportações devem seguir o mesmo ritmo. Além do mais, o estudo indica que até 2030, cerca de 50% do comércio mundial de soja serão feitos pelo Brasil. A China será responsável por importar 2/3 do total global, cerca de 108 milhões de toneladas.
Com relação a produção brasileira de bovinos, esta deverá se manter estável, enquanto as exportações poderão crescer 38% na próxima década. Por fim, no milho, a produção brasileira responderá por 9% do total global em 2030, e a participação nas exportações deve se manter estável, em 20% do total movimentado mundialmente.
Ainda com relação ao futuro do setor, o Brasil deve expandir em 100 mil hectares a área plantada com trigo no cerrado até 2023, podendo assim, reduzir a importação do cereal em R$ 450 milhões. A projeção foi feita pela Embrapa, que tem desenvolvido novos cultivares adaptados a locais de clima quente e com poucas chuvas. A organização planeja transferir conhecimentos e tecnologias para regiões como BA, GO, MT, MS, MG, SP e DF, por meio de um projeto para que os produtores tenham mais opções de culturas, gerando mais empregos e renda para o país. De acordo com a Conab, a região Sul do país é responsável por cerca de 88% da área de produção de trigo.
A principal rodovia para o escoamento de grãos do Centro-Oeste para o Arco Norte, a BR-163, deve receber investimentos de R$ 2 bilhões após o seu leilão, no começo de julho. O trecho da BR que liga Sinop-MT a Miritituba-PA será administrado durante dez anos por um consórcio de empresas, com ampliação das faixas, construção de vias marginais e acessos definitivos aos terminais portuários. Mais competitividade ao principal polo de produção de grãos do país!
Os cinco fatos do agro para acompanhar em agosto são:
• A colheita do milho segunda safra e o volume produzido, o avanço das exportações de grãos do Brasil e o abastecimento interno;
• A evolução dos custos para o plantio da safra 2021/22, as decisões de compra e venda;
• A crise hídrica e as medidas a serem tomadas;
• O câmbio e as perspectivas econômicas com a aceleração da vacinação;
• O andamento da safra americana. As condições das lavouras de milho nos EUA melhoraram e chegaram a 65% de bom e ótimo com temperaturas mais amenas e boas chuvas. Agora esperar o clima em julho/agosto, que pode esquentar demais e ficar seco.
Marcos Fava Neves é Professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP em Ribeirão Preto e da EAESP/FGV em São Paulo, especialista em planejamento estratégico do agronegócio. Acompanhe outros materiais na página DoutorAgro.com, no canal do Youtube e no MarketClub Sicoob Credicitrus, a quem agradeço ao apoio para elaborar este texto, bem como a co-autoria do Vitor Nardini Marques e Vinicius Cambaúva.
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