Será realizada nesta quinta-feira (23) a 14ª Cúpula dos Brics, bloco que reúne, além do Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. A reunião será feita de forma virtual, presidida pelo governo chinês. Neste ano, o tema do encontro é: “Promover a parceria Brics de alta qualidade e inaugurar uma nova era para o desenvolvimento global”.
O presidente Jair Bolsonaro (PL) deve participar da cerimônia de abertura da cúpula. Segundo o governo brasileiro, o evento foi divulgado como “uma oportunidade de os países-membros trabalharem para promover o espírito de abertura, inclusão e cooperação ganha-ganha, além de fortalecer a cooperação prática em todos os campos e embarcar em uma nova jornada de parcerias do grupo”.
Esta será a primeira vez em que o presidente da Rússia, Vladimir Putin, comparecerá a um evento com líderes das maiores economias emergentes desde o início da guerra da Ucrânia, em 24 de fevereiro deste ano. É uma oportunidade para Putin mostrar que não é um “pária internacional”, como o presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, disse que o tornaria.
Segundo Sushant Singh, membro sênior do Center for Policy Research (CPR) em Nova Delhi, “estamos falando de algumas economias muito importantes cuja liderança está disposta a ser vista com Putin, mesmo que seja apenas em uma plataforma virtual”.
Embora os países possam argumentar que envolver a Rússia é melhor do que deixá-la de fora, a ótica só se torna mais nítida em contraste.
Dias depois da cúpula dos Brics, será a vez da reunião do G7, grupo que reúne os países mais ricos e industrializados do mundo. Entre eles estão Estados Unidos, Japão e Reino Unido.
Ao contrário do G7, espera-se que os Brics ajam com cuidado quanto ao assunto da Ucrânia, provavelmente falando a favor de uma resolução pacífica, mesmo que seus membros possam pedir cuidadosamente aos países ocidentais que examinem o impacto de suas sanções na economia global.
Em discurso em vídeo para participantes do Fórum Empresarial dos Brics, que aconteceu nesta quarta-feira (22), Putin disse que a Rússia está discutindo o aumento da presença de carros chineses no mercado russo, bem como a abertura de cadeias de supermercados indianos.
“Por sua vez, a presença da Rússia nos países do Brics está crescendo. Houve um aumento notável nas exportações de petróleo russo para a China e a Índia”, afirmou Putin.
Também no evento de quarta, o presidente chinês, Xi Jinping, afirmou que o bloco é uma plataforma importante de cooperação para mercados emergentes e países em desenvolvimento, e que a “cooperação dos Brics entrou em um novo estágio de alta qualidade de desenvolvimento”.
Segundo o governo chinês, é necessário “abranger intercâmbios econômicos, políticos e interpessoais, visando uma cooperação mais ampla e profunda dos Brics, aumentar a confiança política mútua e intensificar a comunicação e coordenação sobre as principais questões internacionais e regionais para enfrentar conjuntamente os desafios comuns enfrentados pela humanidade”.
Ainda segundo comunicado, foi reforçada a necessidade de aprofundar a “cooperação prática em todos os campos”, cumprir plenamente os resultados das cúpulas e diálogo e cooperação com outros mercados emergentes e países em desenvolvimento, assim como organizações internacionais.
Outros temas que devem ser abordados incluem cooperação na área de segurança, ações contra a Covid-19, recuperação econômica, educação, mecanismos anticorrupção e a implementação da Agenda 2030 para desenvolvimento sustentável.
Objetivos opostos
Apesar de alguns interesses comuns, o bloco do Brics tem sido atormentado por questões de coesão, dadas as enormes diferenças nos sistemas políticos e econômicos de seus membros e seus interesses geopolíticos divergentes.
Além disso, as complexidades da invasão da Ucrânia pela Rússia podem atenuar quaisquer resultados importantes da cúpula desta semana, mesmo que –com exceção do Brasil– as nações do grupo tenham se abstido de votar em uma resolução da Assembleia-Geral das Nações Unidas apoiada por 141 países que pediram a Moscou para se retirar da Ucrânia.
A China, por sua vez, acusou a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) de provocar a Rússia a atacar a Ucrânia, enquanto uma retórica semelhante circulou no debate público na Índia. Na África do Sul, o presidente Cyril Ramaphosa, no início deste ano, disse aos legisladores que a guerra poderia ter sido evitada se a Otan tivesse “atendido as advertências” sobre a possibilidade de adesão da Ucrânia ao seu bloco.
Em embora o Brasil tenha votado para condenar a agressão da Rússia contra a Ucrânia na ONU, o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (PL) se esquivou – dizendo dias antes que o país permaneceria “neutro”.
Enquanto isso, uma fonte de atrito de longa data permanece sem solução: as tensões entre a Índia e a China, que em 2020 se transformaram em um violento confronto fronteiriço.
Por um lado, os Brics têm sido uma “maneira de garantir alguma forma de engajamento com a China” para a Índia, segundo Singh. Isso continua sendo crítico, pois Nova Délhi está cautelosa em provocar Pequim, especialmente porque fez parceria com os Estados Unidos, Japão e Austrália em seu grupo de segurança e é cada vez mais vista pelos EUA como parte de sua estratégia para combater a China, disse ele.
Mas esses laços também tornam a Índia mais reticente em apoiar os principais resultados da cúpula desta semana.
“Eu ficaria surpreso se qualquer iniciativa substantiva fosse anunciada, porque a Índia enviaria uma mensagem a seus parceiros ocidentais de que está disposta a trabalhar próxima à China e Rússia”, disse Singh. “Isso tornaria a posição da Índia muito complicada.”
Cnn Brasil