Com uma das maiores inflações do mundo, a Argentina decide neste domingo (19) qual projeto de governo e quais propostas econômicas quer para os próximos quatro anos. O segundo turno da eleição presidencial é disputado por Sergio Massa (esquerda peronista) e Javier Milei (liberal libertário), que representam projetos opostos de país.
As campanhas eleitorais de ambos foram repercutidas entre políticos brasileiros, que deram declarações de apoio ou repúdio. Entre eles, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Além de falas, houve também movimentações de parlamentares do Brasil, que foram à Argentina no primeiro turno para demonstrar apoio, bem como de marqueteiros que ajudaram nas campanhas. Houve também cartas de apoio e publicações nas redes sociais. Confira abaixo alguns desses casos.
Lula
Presidente do Brasil, Lula é amigo do presidente da Argentina, Alberto Fernández, que, com apoio de sua vice, Cristina Kirchner, lançou a candidatura de Massa. Atualmente, os três são os maiores representantes da esquerda peronista e do kirchnerismo.
Assim, a simpatia de Lula era natural a Massa, principalmente quando este enfrenta um opositor de extrema-direita, comparado a Bolsonaro e com propostas contrárias ao que o petista defende para os países da América do Sul.
Além disso, Lula foi criticado diversas vezes por Milei (assim como outras autoridades, como o Papa Francisco), chamado de “casta vermelha” e corrupto.
No último debate, no domingo (12), Milei chegou a menosprezar o contato com o presidente brasileiro se for eleito: “Se o governo de Alberto Fernández não falava com Bolsonaro, não há problema se não falo com Lula”. No mesmo dia, Massa reforçou sua intenção de manter forte o comércio externo com o Brasil.
Na terça-feira (14), Lula afirmou, sem citar nominalmente os candidatos, que a Argentina precisa de um presidente que “goste de democracia”.
“Lembrem que o Brasil precisa da Argentina e que a Argentina precisa do Brasil, dos empregos que o Brasil gera na Argentina e dos empregos que a Argentina gera no Brasil, do fluxo comercial entre os dois países e do quanto nós podemos crescer juntos”.
“Para isso, é preciso ter um presidente que goste de democracia, que respeite as instituições, que goste do Mercosul, que goste da América do Sul”, completou.
O governo Lula já avalia reação em caso de vitória de Milei, segundo apuração do analista de política da CNN Caio Junqueira.
O apoio de Lula a Massa se alinha com o de outros líderes progressistas, como o presidente do México, Andrés Manuel López Obrador; o ex-presidente do Uruguai José “Pepe” Mujica; e o premiê da Espanha, Pedro Sánchez.
Fernando Haddad
O ministro da Fazenda do Brasil, Fernando Haddad — equivalente ao ministro da Economia da Argentina, o próprio Sergio Massa — já se pronunciou algumas vezes sobre a eleição do país vizinho. Para ele, uma possível vitória de Milei preocupa.
“É natural que eu esteja [preocupado]. Uma pessoa que tem como uma bandeira romper com o Brasil, uma relação construída ao longo de séculos, preocupa. É natural isso. Preocuparia qualquer um… Porque, em geral, nas relações internacionais você não ideologiza a relação”, disse à Reuters antes do primeiro turno.
Haddad também afirmou que o Mercosul estará em risco se Milei for eleito.
Nota do PT
O partido de Lula e Haddad publicou uma nota institucional no dia 5 deste mês declarando apoio a Massa. Para a sigla — a maior e mais representativa da esquerda brasileira atualmente — a democracia argentina pode estar em jogo.
O texto classifica Massa como “democrático e popular, com um programa de governo de desenvolvimento e justiça social” e Milei como “extrema-direita e o ultraneoliberalismo econômico do salve-se quem puder”.
O PT também compara Milei a Bolsonaro: “Conhecemos bem essa alternativa de extrema-direita, que também governou nosso país no período anterior. Conhecemos toda a dor e o sofrimento que o descaso com a vida do povo significou para nosso país”.
O documento ainda defende a integração regional de países da América do Sul, pauta em comum entre Lula e Massa, e rejeitada por Milei (que assume intenção de retirar a Argentina do Mercosul).
“Derrotar a extrema-direita, que se articula em nível mundial, é tarefa essencial para a construção de um mundo de paz, cooperação e solidariedade”, finaliza a nota assinada pela presidenta do partido, Gleisi Hoffmann, e pelo secretário de relações internacionais, Romênio Pereira.
Jair Bolsonaro
Maior representante da direita no Brasil, o ex-presidente apoia Milei abertamente. Antes do primeiro turno, ele declarou esse apoio em vídeo enviado por ele e publicado na rede social do colega.
“Nós realmente sabemos o que é melhor para os nossos países. Não podemos continuar com a esquerda. É um apelo que eu faço a todos os argentinos: vamos mudar, e mudar para valer, com Milei. Compromisso meu, hein?! Vou para a tua posse”, disse.
Ainda no ambiente digital das redes sociais, Milei é comparado a Bolsonaro e ao ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump — todos representantes em algum ponto da extrema-direita e do conservadorismo.
Bia Kicis
Apoiadora de primeira ordem de Bolsonaro, a deputada Bia Kicis (PL-DF) também se posicionou contra Massa e a favor de Milei. Ela destacou nas redes sociais a importância da extrema direita argentina conquistar os votos da centro-direitista Patricia Bullrich, derrotada em terceiro lugar no primeiro turno.
“O esquerdista que ajudou a quebrar a Argentina vai para o segundo turno com Javier Milei. Agora é trabalhar pelos votos da candidata de centro-direita Patricia Bullrich”, escreveu na segunda-feira (23), após o primeiro turno.
Eduardo Bolsonaro
Filho do ex-presidente e deputado federal, Eduardo Bolsonaro (PL-SP) foi um dos parlamentares brasileiros que viajou para a Argentina no primeiro turno. Em Buenos Aires, ele acompanhou a votação de um candidato a deputado do partido de Milei.
No mesmo dia, ele disse acreditar que Milei iria vencer no primeiro turno. Ele também concedeu uma entrevista a uma televisão local, na qual defendeu a posse de armas e, por isso, foi interrompido ao vivo pelos apresentadores do programa.
Além dele, os deputados Marcel Van Hattem (Novo-RS) e Rodrigo Valadares (União-SE) também viajaram à Argentina.
Carta de apoio a Milei
Antes do primeiro turno, 69 deputados brasileiros assinaram uma carta de apoio a Milei e de repúdio a Massa e ao atual governo, culpando-os pela piora da economia da Argentina.
O texto diz que a crise argentina é a pior de sua história e que foi “causada pelas políticas públicas assistencialistas empregadas há anos no país (…) elas geraram dependência, clientelismo e corrupção, comprometendo a qualidade dos serviços públicos, a eficiência do Estado e a democracia”.
Além disso, o documento também acusa o governo Lula de tentar interferir no pleito em favor de Massa, usando sua influência para levar lideranças internacionais a aceitarem a entrada da Argentina no Brics e para o Banco de Fomento da América Latina (CAF) liberar empréstimo bilionário ao país.
Entre os assinantes, havia 15 parlamentares da base de apoio de Lula. Foram oito do União Brasil, dois do PSD, dois do PP, um do MDB e dois do Republicanos.
- Rodrigo Valadares (União-SE);
- Coronel Assis (União-MT);
- Cristiane Lopes (União-RO);
- Felipe Francischini (União-PR);
- Leur Lomanto Júnior (União-BA);
- Luiz Carlos Busato (União-RS);
- Nicoletti (União-RR);
- Padovani (União-PR);
- Luiz Ovando (PP-MS);
- Evair Vieira de Melo (PP-ES);
- Reinhold Stephanes Júnior (PSD-PR);
- Sargento Fahur (PSD-PR);
- Thiago Flores (MDB-RO);
- Messias Donato (Republicanos-ES); e
- Zucco (Republicanos-RS).
Demais assinantes:
- Abílio Brunini (PL-MT);
- Adílson Barroso (PL-SP);
- Alberto Fraga (PL-DF);
- André Fernandes (PL-CE);
- Amália Barros (PL-MT);
- Bia Kicis (PL-DF);
- Bibo Nunes (PL-RS);
- Cabo Gilberto Silva (PL-PB)
- Capitão Alberto Neto (PL-AM);
- Capitão Alden (PL-BA);
- Carla Zambelli (PL-SP)
- Carlos Jordy (PL-RJ);
- Caroline de Toni (PL-SC);
- Coronel Chrisóstomo (PL-RO);
- Coronel Fernanda (PL-MT);
- Coronel Meira (PL-PE);
- Daniel Freitas (PL-SC);
- Daniela Reinehr (PL-SC);
- Delegado Caveira (PL-PA);
- Delegado Paulo Bilynskyj (PL-SP);
- Delegado Ramagem (PL-RJ);
- Domingos Sávio (PL-MG);
- Eduardo Bolsonaro (PL-SP);
- Eros Biondini (PL-MG);
- Filipe Barros (PL-PR);
- General Girão (PL-RN);
- Geovânia de Sá (PSDB-SC);
- Gilson Marques (Novo-SC);
- Gilvan da Federal (PL-ES);
- Giovani Cherini (PL-RS);
- Gustavo Gayer (PL-GO);
- Hélio Lopes (PL-RJ);
- José Medeiros (PL-MT);
- Júlia Zanatta (PL-SC);
- Junio Amaral (PL-MG);
- Luiz Lima (PL-RJ);
- Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PL-SP);
- Marcel van Hattem (Novo-RS);
- Marcelo Álvaro Antônio (PL-MG);
- Marcelo Moraes (PL-RS);
- Marcos Pollon (PL-MS);
- Mário Frias (PL-SP);
- Mauricio Marcon (Pode-RS);
- Nikolas Ferreira (PL-MG);
- Pastor Eurico (PL-PE);
- Pastor Marco Feliciano (PL-SP);
- Priscila Costa (PL-CE);
- Roberta Roma (PL-BA);
- Rodolfo Nogueira (PL-MS);
- Sanderson (PL-RS);
- Sargento Gonçalves (PL-RN);
- Sóstenes Cavalcante (PL-RJ);
- Vermelho (PL-PR); e
- Zé Trovão (PL-SC).
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