Além da pandemia, outro problema global com que os países tiveram de lidar nos últimos anos foi a disparada da inflação. Mesmo com causas comuns, características específicas de cada nação acabaram influenciando a intensidade da alta de preços e também as ferramentas para combatê-la.
Em 2021, foi possível notar essas discrepâncias considerando apenas os países que integram o G20. Os índices de inflação vão de cerca de 50% no caso da Argentina até 0,5% no Japão, com uma série de resultados diferentes em cada país.
Já no caso do Brasil, a inflação ficou acima da média, na casa dos 10%, com fatores internos que pioraram o quadro. Ao mesmo tempo, o país tem hoje uma das maiores taxas de juros do mundo, indicando a intensidade e velocidade no combate à inflação.
Causas comuns
Simão Silber, professor da FEA-USP, afirma que a causa comum para as pressões inflacionárias registradas pelo mundo é a própria pandemia de Covid-19, que a partir de 2020 gerou um descompasso entre demanda e oferta de uma série de bens, encarecendo preços.
O cenário com a crise sanitária gerou o que Margarida Gutierrez, professora da UFRJ, resume como quatro choques.
Os dois primeiros foram, segundo ela, simultâneos, um de demanda —em que a renda gasta com serviços e viagens migrou para o consumo de bens, fazendo os preços subirem— e outro de custo, com os preços das commodities, em especial alimentos e petróleo, disparando pelo desequilíbrio entre oferta e demanda.
O terceiro choque surgiu pela adoção por diversos países de estímulos fiscais e monetários durante a pandemia, que resultaram em um “excesso inflacionário”, com aumento de liquidez, auxílios financeiros e juros baixos. Para ela, porém, esse fator atingiu muito mais países desenvolvidos, caso dos Estados Unidos, do que o Brasil.
O último choque que a professora cita foi ligado parcialmente à pandemia: o de preços de energia. Nesse caso, as razões variaram de país para país, mas o mais comum foi a alta no petróleo, com a demanda alta em meio à recuperação da economia e a oferta contida pela redução de produção da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep).
Na Europa, os preços do gás avançaram com o crescimento da demanda chinesa, oferta menor e, segundo acusações de autoridades, retenção no suprimento pela Rússia. Já nos Estados Unidos e no Reino Unido, tanto o gás natural quanto o petróleo subiram, acompanhando o exterior.
Na Índia e na China, a alta mais danosa foi a do carvão, com uma produção menor e restrições chinesas ao consumo e produção por questões ambientais.
E há ainda o caso do Brasil, em que os combustíveis dispararam por causa do petróleo, ao mesmo tempo em que as contas de luz encareceram pela crise hídrica, prejudicando a produção de energia pelas hidrelétricas e obrigando o uso de termelétricas, mais caras.
fonte:cnn