O dólar encerrou esta sexta-feira (22) em alta de 4,07%, cotado a R$ 4,80. A moeda norte-americana registrou a maior alta percentual desde 16 de março de 2020, começo da pandemia de Covid-19. Na semana, a moeda subiu 2,34% e, em 2022, registra desvalorização de 13,76%.
Já o Ibovespa fechou em baixa de 2,86%, aos 111.077,51 pontos, maior queda percentual desde 26 de novembro de 2021, quando caiu 3,39%.
Ao longo do dia, investidores também reagiram à perspectiva cada vez mais provável de endurecimento da postura de política monetária do Federal Reserve derrubando ativos de risco em todo o mundo. Esse cenário somava-se ao mercado externo de olho na cena política doméstica de novos atritos entre o presidente Jair Bolsonaro e o Supremo Tribunal Federal (STF).
E no Brasil ainda, o foco também esteve na política monetária, após declaração do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto. Ele disse que “o momento exige serenidade para avaliar o tamanho e a duração dos choques atuais”, e que “persistirá em sua estratégia até que o processo de desinflação e a ancoragem das expectativas em torno de suas metas se consolide”.
A alta da moeda americana deixa no radar uma saída de capital estrangeiro do Brasil devido à aceleração dos juros nos Estados Unidos, queda das ações brasileiras no mercado estrangeiro e desvalorização dos juros futuros, diz Bruno Madruga, chefe de renda variável e sócio da Monte Bravo Investimentos, em entrevista à CNN.
Na última quarta-feira (20), o Ibovespa fechou em queda de 0,62%, aos 114.343,78 pontos. Já o dólar registrou desvalorização de 1,03%, cotado a R$ 4,618.
Sobe e desce da B3
Veja os principais destaques do pregão desta sexta-feira
Maiores altas
- Copel (CPLE6) +1,63%
Maiores baixas
- CSN (CSNA3) -7,68%;
- Locaweb (LWSA3) -6,29%;
- Vale (VALE3) -5,80%;
- Iguatemi (IGTI11) -5,38%;
- Cogna (COGN3) -5,26%
Fed
O presidente do Fed, Jerome Powell, afirmou na quinta-feira que um aumento de 0,5 ponto percentual nos juros estará “sobre a mesa” quando o Fed se reunir em maio, acrescentando que seria apropriado “agir um pouco mais rapidamente”.
O comentário —que consolida a ampla expectativa de que o banco central norte-americano intensificará a dose de aperto monetário diante da inflação mais alta em quatro décadas— levou o índice do dólar contra uma cesta de rivais fortes a tocar uma máxima em 25 meses nesta sexta-feira, enquanto várias divisas arriscadas pares do real, como rand sul-africano, dólar australiano e peso mexicano, caíam entre 0,7% e 1% no dia.
“A visão de que o Fed deve apertar o passo, que foi sustentada pelas autoridades mais hawkish no início, passou a ser amplamente aceita. Com isso, o mercado já precifica pelo menos três altas de meio ponto (nos juros) nas próximas reuniões”, disse a XP em nota.
Juros mais altos nos EUA elevam a atratividade de se investir na extremamente segura renda fixa norte-americana, o que tende a aumentar o ingresso de recursos na maior economia do mundo e, consequentemente, beneficiar o dólar.
Eletrobras
Fontes do Planalto e do Ministério da Economia disseram à CNN que o governo considerou que foi derrotado com o adiamento pelo Tribunal de Contas da União (TCU) do julgamento do processo de privatização da Eletrobras por 20 dias, mas não desistiu de vender a estatal.
Como o próprio ministro Vital do Rego antecipou à CNN na terça-feira (19), ele pediu vista por 60 dias. Mas durante a sessão houve uma negociação com outros ministros que consideraram o prazo muito extenso e ele acabou aceitando que o período de vista durasse 20 dias.
Com isso, o processo só deve voltar à pauta da corte de contas no dia 11 de maio, o que torna inviável que o cronograma inicial seja estabelecido.
Ao mesmo tempo, em visita à Índia, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse nesta sexta-feira (22) que o governo continua planejando capitalizar a Eletrobras neste ano.
“Acredito que a decisão do TCU sobre Eletrobras foi avanço no processo, porque o relator apresentou seu voto e os demais ministros debateram. O cronograma para capitalizar a Eletrobras era até o fim de abril, mas esse atraso de 20 dias levará a um ajuste”, afirmou em entrevista coletiva virtual.
Noticiário político
Na véspera, feriado de Tiradentes que manteve os mercados locais fechados, o presidente Jair Bolsonaro anunciou um decreto concedendo perdão ao deputado Daniel Silveira por meio de uma “graça constitucional”, um dia após o Supremo Tribunal Federal condenar o parlamentar pelos crimes de coação no curso do processo e atentado ao Estado Democrático de Direito. A medida, vista por muitos como uma afronta ao STF, tem potencial de abrir nova crise com a cúpula do Judiciário.
Fernando Bergallo, diretor de operações da assessoria de câmbio FB Capital disse acreditar que, embora “indesejável”, a tensão política não está fazendo preço no mercado de câmbio local, que reflete principalmente os temores de juros mais altos nos Estados Unidos, e afirmou que o mercado já esperava alguma recuperação do dólar mesmo antes da escalada das tensões entre Bolsonaro e o STF.
Isso porque, na última sessão, na quarta-feira, a moeda norte-americana à vista fechou em queda de 1,03%, a R$ 4,6186 na venda, maior desvalorização percentual desde 4 de abril. É comum, após oscilações expressivas, haver ajustes no preço da divisa.