Um grupo de cientistas divulgou nesta segunda-feira (25) a descoberta de um anticorpo que ataca células-tronco cancerígenas, mas que não danifica células saudáveis.
Segundo a pesquisa publicada na revista científica Nature Cancer, o Petosemtamab (ou MCLA-158) previne o início da metástase (ou seja, a disseminação do câncer para outros órgãos vitais) e, ao mesmo tempo, retarda o crescimento de tumores primários.
“A medicina do futuro começa aqui”, disse Eduard Battle, pesquisador do Instituto de Investigação em Biomedicina de Barcelona (IRB) que participou do projeto.
Uso de ‘espião’: os organoides
O estudo foi feito com camundongos, ou seja, ainda é considerado inicial, mas os cientistas afirmam que ele oferece as bases para a disseminação do uso de organoides (pequenos tecidos em 3D derivados de células-tronco) no processo de descoberta de novos medicamentos pela indústria farmacêutica.
Isso porque os organoides, que são culturas celulares, poderão facilitar a realização de testes e a identificação de medicamentos que serão eficazes para pacientes caso utilizadas nos estágios iniciais de desenvolvimento de drogas.
Outra vantagem é que há também a possibilidade de identificar logo de cara os possíveis efeitos colaterais desses medicamentos e até mesmo se eles serão eficazes contra tumores portadores de uma mutação específica.
Mas isso só foi possível porque, pela primeira vez, uma espécie de ‘biobanco’ de organoides de pacientes com câncer de cólon foi utilizado. Assim, os pesquisadores puderam identificar qual novo anticorpo, entre centenas analisados, foi mais eficaz e possivelmente mais adequado para a maioria dos pacientes.
Representação visual do MCLA-158. — Foto: IRB BARCELONA AND MERUS N.V.
Atualmente, a medicina regenerativa faz o uso de organoides somente para personalizar o tratamento contra o câncer: pesquisadores avaliam, por exemplo, a eficácia de um tratamento para um determinado paciente.
A empresa holandesa de biotecnologia Merus, que encabeçou o projeto com pesquisadores do IRB Barcelona, do Centro de Pesquisa Biomédica da Rede do Câncer (CIBERONC), pretende agora publicar nos próximos meses novos dados sobre os ensaios clínicos em andamento.
Teste de segurança em humanos
Em outubro do ano passado, a companhia apresentou dados preliminares sobre a segurança, tolerabilidade e atividade antitumoral da monoterapia com o MCLA-158 em um tumor maligno desenvolvido a partir de células epiteliais, o carcinoma de células escamosas de cabeça e pescoço (HNSCC).
Segundo o estudo de fase 1, três dos sete pacientes com HNSCC obtiveram respostas parciais, com um atingindo resposta completa após a data de corte de dados de agosto de 2021. A redução do tumor foi observada em todos os sete pacientes.
“Esperamos que a atividade antitumoral relatada nos dados preliminares seja confirmada”, acrescentou Batlle.
G1