Deitado sobre minha cama, janela entreaberta, algumas réstias de sol sobre as palmeiras do quintal, vejo uma pomba fincada sobre as antenas da televisão, se energizando com o calor do sol, sentindo sobre suas asas os açoites dos ventos de setembro, tão necessários ao sistema imunológico de todos os animais que povoam a Terra. Através da vitamina D, solidificamos nosso organismo.
Pombo branco em lindo voo de pouso
A ave está no alto, estática, aparentemente sem movimentos, mas vejo que ela, aos poucos, vai seguindo o movimento solar para que o calor seja absorvido por todo o seu corpo, protegido por uma camada de penas.
Fiquei imaginando: nós, seres humanos, fazemos o mesmo por indicações médicas ou por leituras científicas sobre o assunto. Esse tema, a princípio tão pueril, talvez insignificante, me leva à observação de que todos nós, criaturas desse planeta Terra, temos um nível de inteligência ou instinto capaz de nos nortear de acordo com as nossas necessidades, que fluem da carência de nosso próprio corpo. Vejo que agora a ave abre suas asas, procurando cada vez mais a irradiação solar no seu corpinho tão vulnerável. Como se estivesse dizendo: “Sol, penetra nas minhas entranhas, quero sentir teu calor, aquece meu corpo, esquenta meu ser, quero vitalidade para minhas asas, quero voar eletrizante pelos ares, ver lá de cima os homens que, sem asas, se movimentam sobre a artificialidade dos modernos motores!”
É verdade… Sempre os homens sonharam em voar, desde as teorias de Leonardo da Vinci até a materialização do voo de Alberto Santos Dumont. No espectro da fé, do sobrenatural, criamos a figura mística dos anjos, palavra latina e grega, mensageiros entre Deus e os homens, presentes no judaísmo, cristianismo e islamismo, como vemos e admiramos nas imagens das catedrais católicas.
Como as pombas, como os condores, também somos nós, homens, mesmo sem asas. Uns voam alto com o sucesso, fama e inteligência; outros voam baixo como as galinhas, porque não tiveram oportunidades ou se mantiveram na inaptidão, leniência, preguiça ou por outro motivo qualquer! A pombinha continua no mesmo local. Observo agora que está acompanhada, quem sabe, do seu par, num colóquio amoroso de toque nas asas e nos bicos, como se estivessem beijando, sentindo as prévias de um acasalamento para a reprodução de suas espécies!