O presidente Jair Bolsonaro disse que, se “não tiver a cabeça no lugar” ele “alopra”, ao se referir à exposição de sua família provocada pela divulgação de informações sobre a investigação do Ministério Público do Rio envolvendo um de seus filhos, o senador Flávio Bolsonaro (sem partido-RJ).
Ele deu a declaração a jornalistas durante uma conversa de mais de duas horas no Palácio da Alvorada, em Brasília.
“O processo está em segredo de Justiça? Te respondo: está, né? Quem é que julga, é o MP ou o juiz? Os caras vazam e julgam? Paciência, pô. Qual é a intenção? Estardalhaço enorme. Será porque falta materialidade para ele e equivale ao desgaste agora? Quem está feliz por essa exposição absurda na mídia? Alguém está feliz. Agora, se eu não tiver a cabeça no lugar, eu alopro”, disse Bolsonaro.
Flávio é alvo de uma investigação que corre no Ministério Público do Rio sobre um suposto esquema no qual ele teria se apropriado de parte do salário de servidores do seu gabinete quando era deputado estadual no Rio.
Os promotores afirmam que Flávio Bolsonaro é o chefe de uma organização criminosa e identificaram pelo menos 13 assessores que repassaram parte de seus salários ao ex-assessor dele, Fabrício Queiroz.
- O Ministério Público diz que “as provas permitem vislumbrar que existiu uma organização criminosa com alto grau de permanência e estabilidade, entre 2007 e 2018, destinada à prática de desvio de dinheiro público e lavagem de dinheiro”.
O presidente disse que há “abuso” do Ministério Público no caso envolvendo o filho e defendeu controle do MP.
“A questão do MP está sendo um abuso. Qualquer um nota. Qual a interferência minha? Zero” , afirmou o presidente.
“Todo poder tem que ter uma forma de sofrer um controle. Não é do Executivo, é um controle. Quando começa a perder o controle, busca pelo em ovo…Eu sou réu no Supremo, sofri muito processo, os mais variados possíveis”, completou ele.
Na entrevista, Bolsonaro também afirmou que:
- não deveria ter dito que um repórter tinha ‘cara de homossexual’
- o foco da economia em 2020 será a criação de empresas
- o caso Marielle não está sendo bem conduzido pelo MP do Rio
- a possibilidade de ele estar com câncer de pele foi afastada
- ainda está discutindo eventuais vetos ao projeto anticrime
- trabalhará pela instituição do voto impresso
Declaração a jornalistas
O presidente também disse neste sábado que “erra” e que “não deveria” ter dito a um repórter que ele tinha “cara de homossexual terrível.”
Bolsonaro deu a declaração na sexta (20), durante entrevista a jornalistas na porta do Palácio da Alvorada, ao ser questionado sobre o que deveria acontecer com o filho, Flávio Bolsonaro, se ele tivesse cometido algum deslize.
“Você tem uma cara de homossexual terrível. Nem por isso eu te acuso de ser homossexual. Se bem que não é crime ser homossexual”, respond
Entidades de jornalistas protestam contra postura de Bolsonaro com repórteres
Perguntado se havia espaço para arrependimento nas declarações da sexta, Bolsonaro respondeu: “Sim, eu erro. Não deveria ter falado”.
Questionado se considerava a fala de ontem um erro, Bolsonaro respondeu:
“Para quem que eu falei que era terrivelmente homossexual? Não está aqui hoje? Manda um beijo para ele. É igual futebol: ali na frente, de vez em quando, você manda seu colega para a ponta da praia (base da Marinha que teria sido usada como local de tortura na ditadura militar). Depois vai tomar uma tubaína com ele”, declarou o presidente.
Protesto das entidades
O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal repudiou o que chamou de mais um violento ataque do presidente Jair Bolsonaro a jornalistas.
O sindicato citou levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), segundo o qual, neste ano, o presidente dirigiu ao menos um ataque à imprensa a cada três dias.
A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), afirmou que o presidente assediou moralmente os repórteres e que teve atitude semelhante em mais de dez ocasiões neste ano.
A Abraji destacou ainda que apoiadores do presidente acentuam o clima de intimidação aos repórteres na porta do Alvorada. E a entidade ressaltou:
“Atacar jornalistas como forma de evitar prestar informações de interesse público e receber aplausos de apoiadores é ação incompatível com o respeito ao trabalho da imprensa, fundamental para a democracia.”
Balanço e economia
No balanço do ano, o presidente Jair Bolsonaro destacou a atuação do ministro da Economia, Paulo Guedes. Disse que em 2020, o carro-chefe será a economia com foco na criação de empresas.
O presidente afirmou que a reforma tributária vai passar no Congresso, porque é interesse da sociedade e que defende uma mudança agora na tabela de imposto de renda – aumento do limite de isenção, que hoje é de R$ 1.903,98, para R$ 3 mil.
Sobre uma nova versão da CPMF, o presidente disse que não é a favor, mas não deu mais detalhes. Disse que, nesse campo, se alinha a Paulo Guedes, e não Guedes a ele.
“Você está entrando em particularidades que eu não quero aqui falar algo que possa constranger o Paulo Guedes amanhã por desconhecimento da minha parte. Não tenho como saber de tudo que acontece no governo. Eu estava hoje de manhã ouvindo a entrevista do Paulo Guedes na GloboNews, cheguei na primeira hora, faltam 30 minutos. Devo ouvir de novo a
g1