Líder na exportação mundial de petróleo, a Arábia Saudita foi surpreendida no último sábado 14 por ataques que comprometeram metade da sua produção. Uma série de drones atingiu a refinaria de Abquaiq, a maior do mundo, e os campos de Khurais. A ação fez disparar os preços do petróleo e aumentou a incerteza sobre a economia mundial, que está em desaceleração. O acontecimento do fim de semana levou o mundo a temer um novo choque do petróleo. Na segunda-feira, os preços subiram quase 20%, o maior salto em quase 30 anos. Essa alta foi parcialmente revertida nos dias seguintes, quando a estatal saudita Aramco afirmou que poderia restaurar cerca de 70% do fluxo de 5,7 milhões de barris diários. Além disso, o país estaria apto a retomar sua produção até o final do mês. Há dúvidas sobre a extensão dos danos e a capacidade de restabelecimento saudita, mas as declarações foram suficientes para acalmar os mercados e reduzir o preço do barril — o Brent, referência internacional, estava 6% superior ao preço pré-ataque na última quarta-feira, mas 13,5% inferior ao pico registrado esse ano, em maio.
O ataque foi reivindicado pelos rebeldes houthis, do Iêmen, que lutam contra uma coalizão liderada pela Arábia Saudita na guerra civil do país. Mas a Arábia Saudita responsabilizou o Irã — os dois países são inimigos históricos e estão em lados opostos no conflito. Autoridades sauditas apresentaram drones que teriam sido usados na ação. Afirmaram que são equipamentos iranianos vindos do norte, o que exclui a origem no Iêmen (que fica ao sul). Além disso, disseram que as milícias houthis não possuem equipamentos capazes de percorrer uma distância de 700 quilômetros. O secretário de Estado americano Mike Pompeo também responsabilizou o Irã e chamou o ataque de um “ato de guerra”. O presidente Donald Trump, por outro lado, foi mais cauteloso. Não acusou os iranianos diretamente, evitando a pressão doméstica para que agisse militarmente contra o país. Ao invés disso, determinou o aumento de sanções contra os iranianos.
A escalada é um desafio para Trump. Depois de abandonar o acordo nuclear internacional com o Irã, os EUA têm ampliado suas sanções econômicas que visam estrangular as exportações de petróleo iranianas. O Golfo Pérsico, que concentra um terço das exportações mundiais de petróleo, registra tensões crescentes desde o ano passado e tornou-se palco de ataques. O incidente expôs a vulnerabilidade da Arábia Saudita em proteger suas instalações, apesar de o país ser um dos maiores compradores mundiais de armamentos — a maior parte fornecida pelos EUA. Seu papel como regulador do mercado mundial passou a ser visto com reserva. Isso pode atrair o interesse pela exploração em áreas mais seguras, o que pode favorecer indiretamente o Brasil, com o pré-sal adquirindo mais importância como fronteira estratégica da commodity.
Efeitos no Brasil
Essa valorização do pré-sal não é a única implicação no Brasil. Os ataques colocam à prova a política de preços da Petrobras, que alinha o valor de combustíveis no País com os praticados no exterior. O receio é que volte a interferência política para brecar o aumento da gasolina e do diesel — a principal preocupação é pela ameaça de greve dos caminhoneiros. Além disso, também fica em risco o plano de quebrar o virtual monopólio da estatal no refino. Isso ocorre porque as refinarias que estão sendo vendidas pela companhia tornam-se menos atraentes para investidores se houver insegurança comercial. Questionado, o ministro Paulo Guedes se esquivou e declarou que “esse petróleo aí é da Petrobras”. De início, a empresa disse que não faria um reajuste imediato. Na quarta-feira, subiu a gasolina em 3,5% e o diesel, em 4,2%. O Ministério das Minas e Energia anunciou a criação de um gabinete de crise para acompanhar a situação. Esse é um teste não só para a Petrobras, mas para os rumos da política econômica de Guedes.