A duração da imunidade oferecida pelas vacinas contra a Covid-19 é alvo de estudos desde o início da aplicação dos imunizantes. A tendência é que os níveis de anticorpos diminuam ao longo do tempo.
Estudos de efetividade, também chamados de “vida real”, avaliam a proteção conferida pelas vacinas em larga escala, considerando um grande número de indivíduos. Um novo estudo, conduzido pelo Instituto Butantan na cidade de Serrana, no interior de São Paulo, revela que vacinados com a Coronavac mantêm anticorpos por mais de um ano.
A pesquisa, publicada em abril no periódico IJID Regions, da Sociedade Internacional de Doenças Infecciosas, mostra que a vacina é eficaz no esquema inicial e na dose de reforço, mantendo altos títulos de anticorpos e soroconversão (produção de anticorpos específicos) acima de 95% um ano após a segunda dose, tanto em adultos como em idosos.
A análise faz parte do Projeto S, que avaliou a efetividade do imunizante durante a pandemia de Covid-19 em 27 mil pessoas, e foi conduzido em parceria com o Hospital Estadual de Serrana.
Análise
Os pesquisadores acompanharam durante um ano 3.902 voluntários, sendo 42,4% pessoas acima de 60 anos. Para verificar a produção de anticorpos, chamada tecnicamente de resposta imune humoral ao longo do tempo, foram coletadas amostras de sangue no 4º, 7º, 10º e 13º mês após a segunda dose.
Um ano depois da imunização, os participantes apresentaram, respectivamente, soroconversão de 100%, 96,6% e 96,5% para os anticorpos IgG anti-RBD (específicos para o local de ligação entre a proteína Spike e as células humanas), anti-N (para a proteína nucleocapsídeo, do interior do vírus) e anti-S (para a proteína de superfície Spike).
“Nossos dados mostraram que há formação de imunidade sustentada com duas doses de Coronavac, e que a terceira dose homóloga teve um papel importante para aumentar e sustentar os anticorpos ao longo do tempo. Em Serrana, mais de 95% da população adulta e idosa recebeu Coronavac como reforço”, afirma o diretor de Atenção à Saúde do Hospital Estadual de Serrana e autor do artigo, Gustavo Volpe.
De acordo com o estudo, o esquema vacinal inicial aumentou consideravelmente os títulos de anticorpos e soroconversão nos participantes. Quatro a seis meses após a segunda dose, no entanto, foi observada uma leve queda na proteção – situação que vinha sendo documentada para as outras vacinas contra o SARS-CoV-2.
Nesse contexto, em setembro de 2021, o Ministério da Saúde recomendou uma terceira dose para os idosos e, em novembro do mesmo ano, para adultos. O estudo feito pelo Butantan em Serrana teve como objetivo avaliar o impacto dessas doses de reforço e sua relação com o esquema vacinal inicial ao longo dos meses.
No 7º mês de avaliação, a soroconversão geral foi de 99,7% (anti-RBD), 80,9% (anti-N) e 75,4% (anti-S), respectivamente. Os idosos, que costumam ter uma resposta naturalmente mais baixa às vacinas, apresentaram maior produção de anticorpos do que os adultos que ainda não haviam tomado o reforço.
Já nas coletas do 10º e 13º mês, quando toda a população do estudo era elegível para tomar as três doses, a resposta imune humoral se manteve elevada em ambos os grupos etários, com valores superiores a 90%. A dose de reforço da Coronavac também aumentou os títulos de anticorpos em duas a cinco vezes.
Outro achado do estudo é que títulos mais altos de anticorpos IgG anti-Spike trimérico foram associados a uma menor probabilidade de infecção. Ao final de um ano de acompanhamento, a soroconversão desse tipo de anticorpo foi de 97,2% nos adultos e 95,6% nos idosos.
Os resultados do trabalho de sorologia complementam a análise de efetividade feita em 2021 no Projeto S. “É importante relembrar que Serrana foi utilizada como uma prova de conceito. Nós vacinamos a maior parte da população adulta da cidade e demonstramos que houve redução no número de casos sintomáticos, de internações e de mortes – ou seja, mostramos a efetividade da vacina no mundo real”, aponta o diretor do Hospital Estadual de Serrana, Marcos Borges.
CNN Brasil