O relevo de Porto Alegre é um ponto-chave para entender o acúmulo de água que causa enchentes na região metropolitana da capital do Rio Grande do Sul. Em um cenário de chuvas intensas e constantes há 10 dias, o lago Guaíba bateu a máxima história de 5,33 metros e deve permanecer acima da cota de inundação (3 m) até a próxima semana.
Juntamente com o relevo da capital, também contribuíram para a gravidade do cenário causado pelas chuvas extremas:
- a formação topográfica das regiões no entorno da região metropolitana,
- a bacia hidrográfica da área, e
- o efeito das tempestades no Oceano Atlântico.
Abaixo, entenda o papel que cada um desses elementos teve na maior enchente da história no Rio Grande do Sul.
1 – Topografia e relevo
Porto Alegre está localizada em uma planície, ou seja, em um território plano. Esse tipo de relevo é comum em áreas que ficam a poucos metros do nível do mar, que é exatamente o que acontece ali, já que a cidade tem uma altitude média de 10 metros.
Gramado, por exemplo, fica 850 metros acima metros do nível do mar, e São José dos Ausentes, município mais alto do RS, está a quase 1,2 mil metros de altitude.
Segundo Rualdo Menegat, coordenador-geral do Atlas Ambiental de Porto Alegre e professor titular do Instituto de Geociências da UFRGS, alguns pontos da cidade são ainda mais baixos e ficam no nível do Delta do Jacuí (entenda mais abaixo).
É o caso da zona norte do município, onde fica o Aeroporto Internacional Salgado Filho, que alagou e ficará fechado por tempo indeterminado, com todas as operações suspensas.
Infográfico mostra geografia de Porto Alegre — Foto: Arte/g1
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2 – Hidrografia da região
Além de ter um território baixo, a capital do Estado é circundada de um lado por 40 morros, e limitada de outro lado pela orla fluvial do lago Guaíba.
O lago Guaíba, na altura de capital, é local de confluência de cinco rios principais — Taquari-Antas, Gravataí, Sinos, Caí e Jacuí — que descem de pontos mais altos do estado. As águas dos rios chegam ao lago Guaíba, vão para a Lagoa dos Patos e de lá para o Oceano Atlântico
— Rualdo Menegat, professor titular do Instituto de Geociências da UFRGS.
Em resumo, o lago que passa por Porto Alegre recebe a água dos rios e da chuva que cai na região central do estado antes de desaguar no oceano.
O especialista explica que os rios que formam o Delta do Jacuí e originam o Guaíba fluem em alta velocidade por causa da altitude de seus cursos. Normalmente, isso ajuda o Guaíba a desaguar na lagoa e seguir fluxo para o mar.
No entanto, com as fortes chuvas e as cheias dos rios da região, o lago está recebendo mais água do que o normal. Isso fez com que ele ultrapassasse sua cota de inundação — que é de 3 metros — e atingisse um nível de 5,26 metros na segunda (6).
Assim como os rios do Delta do Jacuí, o Oceano Atlântico também está sendo afetado pelas fortes chuvas e tempestades de ventos que atingem o Rio Grande do Sul, o que dificulta o escoamento da água.
Os ventos fortes formam marés de tempestade. Isso faz o mar ‘crescer’, subindo o nível em até 2 metros a depender da configuração da praia. No caso do que acontece aqui Rio Grande do Sul, o mar fica mais alto do que o nível de escoamento da Lagoa dos Patos, impedindo que o excesso de água seja despejado no mar.
— Rualdo Menegat, professor titular do Instituto de Geociências da UFRGS.
Como resultado, a água do lago Guaíba e dos rios que o alimentam continua empossada em Porto Alegre e nas cidades vizinhas de baixa altitude. Com as chuvas constantes e a velocidade do fluxo da água, o nível sobe em minutos e deixa cidades submersas em questão de horas.
Imagens de satélite mostram antes e depois de maior enchente da história no RS
G1